Londrino, com mais de duas décadas de experiência em cinema e TV, Will Pugh foi o diretor de fotografia da série Bandidos na TV (em inglês, “Killer Ratings”). Will tem no currículo produções premiadas como os documentários “McQueen”(2018) e “MyScientologyMovie” (2015) e a minissérie “Race for the White House” (2016), para a CNN. Atualmente, trabalha na produção de um filme sobre o super técnico de futebol, Alex Ferguson.
A seguir, ele fala das limitações de segurança de filmar a série em Manaus, seus locais preferidos da capital e sobre o feedback internacional do programa, que estreou na Netflix em 31 de maio.
SBNTV: Quando você soube do caso Wallace pela primeira vez e qual foi sua reação?
Will Pugh: No final de 2017, recebi uma ligação do produtor britânico Alex Marengo. Ele me disse que estava trabalhando com um interessante diretor paraguaio que encontrou e pesquisou uma história inacreditável em Manaus. Antes deste trabalho, eu só conhecia a “cidade na selva” do “Fitzcarraldo”, de Werner Herzog. Então, eu fui me reunir com eles, assisti ao trailer que o Daniel Bogado havia filmado em Manaus e fiquei completamente fascinado.
Eu sabia que investigar esse tipo de história seria difícil e até mesmo perigoso de alguma forma. E, por essa razão, as oportunidades para uma fotografia “bonita” poderiam ser um pouco limitadas.Mas o que me costuma motivar mesmo é o conteúdo, portanto não pude resistir.
SBNTV:Você já havia visitado o Brasil e Manaus antes de trabalhar em “Bandidos na TV”?
Will Pugh: É engraçado. Embora na minha carreira eu já tenha viajado por toda parte, por alguma razão eu nunca tinha estado no Brasil. Eu sempre achei que isso se daria em uma oportunidade de trabalho eventualmente – e assim foi!
SBNTV: Como foi o processo de localização das locações em Manaus? E qual foi sua abordagem ao filmar as entrevistas com os personagens principais da série?
Will Pugh: A questão dos locais de filmagem funcionou de maneira diferente do normal, já que Daniel já havia passadobastante tempo em Manaus, e tinha bastante material de pesquisa e referências. É bom lembrar também de que não tínhamos ideia do que esperar de Manaus (quem diria o quão sinistra a verdade poderia ser?). Então, pelo menos de início, a segurança era um grande problema.
Literalmente,nenhum dos nossos entrevistados permitiu filmar em suas casas, sem exceção. Então, os espaços para as entrevistas acabaram sendo neutros e muitas vezes decididos de última hora. Assim, o grande desafio com os locais das entrevistas era que eles costumavam ser espaços bastante chatos, como escritórios com paredes brancas e luz mista, e muitas mudanças de luz ambiente, já que Daniel gostava de conduzir entrevistas de longa duração.
Também filmamos com duas câmeras,o que gerou desafios extras para aqueles espaçospequenos. Além disso, do ponto de vista prático e orçamentário, a produção não poderia me manter em Manaus por meses a fio, então ficou claro que os membros da equipe de produção teriam que filmar pessoalmente algumas entrevistas importantes.
Para isso, fiz uma espécie de “masterclass” com a equipe, ao filmar as entrevistas, para tentar manter uma consistência visual em toda a série.
Alex me apoiou no uso de lentes de zoom profissional 35mm AngenuiexOptimo e câmera Canon MKII em absolutamente tudo. Isso foi um desafio. Alguns membros da equipe que estavam acostumados a configurações de câmeras menores e mais leves, mas realmente ajudou, espero, a manter uma aparência relativamente consistente. Acho que, no geral, a equipe fez um ótimo trabalho.
As entrevistas mestras, é claro, formam a espinha dorsal da série, mas outro desafio para mim é que essa história foi retrospectiva e, portanto, com muito material de arquivo. Isso significava que infelizmente havia poucas oportunidades para filmar cenas documentais `atuais “ao vivo” – e as que fizemos, muitas vezes acabavam no chão da sala de edição.
No entanto, foi uma ótima experiência filmar as pessoas, a cor e a atmosfera da cidade. Me apaixonei pelas ruas de Manaus, principalmente nas áreas portuária e de mercado, e na Amazônia. Como todagrande cidade portuária, Manaus é um lugar muito intenso e visualmente dinâmico. A coisa que eu mais amo em Manaus é que a gigante Amazônia está sempre presente e imponente – você sente isso em todo lugar. Já filmei e nadei em muitos grandes rios pelo mundo (o Mississipi, o Yangtze, o Zambeze…), mas oAmazonas é o rio de todos os rios.
SBNTV: Quanto você acha que seu trabalho pode influenciar o modo como o público percebe e absorve os fatos narrados pelo filme?
Will Pugh: Acredito que meu trabalho é servir a história e, portanto, as imagens que eu fotografo devem apoiar isso, especialmente em documentários. Uma série como essa, com todos os desafios de segurança que tivemos, significava que meu trabalho era realmente usar minha experiência em documentário para controlar os aspectos da cena que eu poderia, a fim de criar a atmosfera que meus diretores,Daniel e Suemay, estavam procurando, e para tentar manter algum tipo de consistência visual ao longo de muitos meses de filmagem.
Meu filho nasceu no ano passado, então não consegui trabalhar nas reconstruções dramáticas feitas no Rio de Janeiro. No entanto, Daniel estava sempre tendo novas ideias, e foi divertido o quanto de “drama” acabamosrodando em Manaus – apenas Daniel e eu, mais Marcos e Heverson, nossosassistentes de câmera e técnico de som. Não tínhamos atores, nem estúdio e quase nenhuma iluminação, mas tínhamos um trunfo – Manaus! Foi um pouco louco, mas também muito divertido.
SBNTV: Como tem sido o feedback sobre a série para você?
Will Pugh: Para mim, era óbvio de que “Bandidos Na TV” seria um sucesso no Brasil. No entanto, acho um ótimo sinal ver quantas pessoas fora do Brasil também estão gostando. Eu acho que a natureza única e incrível da história fala por si. Daniel, Alex, Suemay e nossa equipe incrível trabalharam incansavelmente nesta série por muitos meses e acho que eles conseguiram isso com grande inteligência e nuance. Mesmo agora não posso ter certeza sobre Wallace Souza. Chega a dar raiva, mas também algo que dá à série uma vantagem – o público terá que decidir por si mesmo!